Não seja negligente com os seus pacientes

Coluna 2º Opinião
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Não seja negligente com os seus pacientes

"Esse texto descreve como o despreparo de profissionais pode e consegue atrapalhar a condução de um bom trabalho e atrasar os planos e, às vezes, a vida de um ser humano."

A paciente TAS, hoje com 17 anos, está quase liberada para retomar a Ortodontia com outro profissional. Mas quando chegou para mim, em agosto de 2011, estava com aparelho fixo montado, ausência de 32 e 42 e a queixa de que seu tratamento ortodôntico não se desenvolvia com a fluidez esperada.

Sinceramente, ela reclamava que seu dentista a estava enganando, pois seus dentes tinham parado de se movimentar. Somente esta queixa já é motivo suficiente para me deixar com uma família de pulgas atrás da orelha.

Solicitei todos os exames radiográficos da jovem e, para minha surpresa, nosso colega “ortodontista” me enviou somente uma panorâmica, feita em fevereiro de 2010, aos 14 anos da paciente, sem laudo, complicando um correto diagnóstico. ​

O exame mostrava uma imagem sugestiva de uma lesão com características císticas, próximo às raízes dos dentes 33 e 34, que merecia no mínimo, na época, uma investigação melhor, antes de iniciar qualquer tipo de abordagem.

Na mesma ocasião, a paciente trouxe com ela outro exame panorâmico, também sem laudo, de outubro de 2010 e, para meu espanto, com aparelho fixo montado e a lesão sem qualquer tipo de abordagem ou tratamento.

Solicitei exame tomográfico, onde constava no laudo as opções de cisto ósseo ou tumor odontogênico ceratocístico. Os dentes envolvidos estavam “positivos” para o teste de sensibilidade pulpar. Minha opção terapêutica foi de interromper imediatamente o tratamento ortodôntico e acessar cirurgicamente a lesão para sua enucleação. ​

Explicados os riscos e assinados os devidos documentos, etapa que consumiu um considerável tempo, a jovem e vaidosa paciente ficou com receosa de uma possível parestesia de lábio inferior, medo justificável devido à localização da lesão.

A cirurgia foi realizada com o cuidado pré-operatório de fazer, também, teste de sensibilidade pulpar de todos os elementos vizinhos à lesão, todos positivos; cobertura antibiótica de dois gramas de amoxicilina, uma hora antes do procedimento; analgésico e anti-inflamatório não esteroide por três dias.

Pós-operatório bem favorável e sem parestesia. A remoção da sutura foi feita com 15 dias, porém o teste de sensibilidade do elemento 34 deu negativo.

Após 30 dias do procedimento cirúrgico foi realizado novo teste pulpar, que continuava negativo. O endodontista foi consultado e analisou todos os exames sugerindo um novo teste de sensibilidade, após trinta dias. Em 60 dias, refizemos o teste do elemento 34 e, finalmente, o resultado foi positivo. Todos respiram aliviados, inclusive eu.

Após um ano e três meses da cirurgia, pedimos uma nova panorâmica que mostrava sinais de recuperação no local. Entretanto, como ainda há sinais de cortical muito pronunciada, a radiologista sugeriu que em seis meses fosse realizado um novo exame radiológico para liberar a retomada do tratamento ortodôntico. ​

Como consideração final, por que será que ninguém avisou a esta paciente e sua família desta condição? Precisou chegar ao ponto de os elementos não mais se movimentarem para que uma segunda opinião fosse pensada pela paciente?

Isso, no meu ponto de vista, é radical demais e esta possibilidade sequer precisaria ser cogitada se houvesse seriedade e transparência de todos os profissionais envolvidos.

Texto de Carlos Wagner; Silvane Franco e Kellen Belmont

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